Um Verdadeiro Paraíso Perdido no Atlântico

"...POR ISSO EU SOU DAS ILHAS DE BRUMA ONDE AS GAIVOTAS VÃO BEIJAR A TERRA..."

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

BRUMA - 4

De novo aquelas pontas de aço, de vidro ou de cristal entram por meus olhos.
O mar ainda está por vir, mas em breve aparecerão aves noturnas a piar em volta dos altos picos. Não sei se alguma coisa feia está para acontecer. A velha avó falava de aves agourentas dos dias de tempestade, mas aquelas pareciam fortes, grandes e nenhum medo me envolvia. Apenas um forte desejo de que me crescessem umas asas, brancas ou não, e que eu as pudesse bater para evadir-me dali.
Da esquina do mar vinham de novo sons pouco nítidos, mas doces, bons, redondos e macios. Sempre quis que estes sons se alojassem na minha vontade de dizer todas as coisas. Então ficava em êxtase, horas e horas, esperando que aquele universo sonoro me transformasse numa enorme garganta, com cordas de aço que durassem a vida toda e que pudessem falar de todos os sons, de todas as palavras, com precisão, doçura e justeza. Não foi fácil. Muitas vezes o que poderia ter sido inteira melodia saía em golfadas, tudo desentoado, desarmônico. Então as pontas de aço, de vidro ou de cristal ficavam espetadas em minha garganta e eu passava eternidades de silêncio. Muda. Endurecida. Morta.
Quando ouvia os rouxinóis no perdido quintal da minha avó, remoía-me de raiva, de inveja, de dor. Havia uma coisa muito grande querendo dizer-se, mas apenas um som mirrado escorria pelo canto da boca, fazendo todos os dias uma ruga que não parava mais.


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SURSUNM CORDA! (erguei os corações ao alto)